A Síndrome dos Melindres
Melindres são os verdadeiros fantasmas do Centro Espírita. Unidos a mágoas e ressentimentos, ajudam a fragilizar os laços humanos. Kardec nos falou sobre isso em discurso a grupos espíritas em Lyon e Bordéus:
...Há, ainda, aqueles cuja suscetibilidade é levada ao excesso; que se melindram com as mínimas coisas, mesmo com o lugar que lhes é destinado nas reuniões, se não os põem em evidência...
Pode-se entender o melindre como um artifício do ego para preservar a própria identidade: ao se sentir “ameaçado” (ou desestabilizado por algo ou alguém), reage com um retraimento emocional, visando proteger, em atitude defensiva e imatura, as estruturas (orgulho e vaidade) do próprio eu.
Se alguém se sentir melindrado, deve se questionar sobre isso, porque o melindre está ligado, no mínimo, a três elementos básicos: orgulho ferido, insegurança pessoal e baixa autoestima. Assim, ele seria a abertura para sentimentos como mágoa, ressentimento, raiva e até agressividade. A suscetibilidade é o nível da capacidade do sujeito em se sentir ofendido.
Já o melindre e seus derivados, se não administrados, são a negação do próprio sujeito, enquanto ser responsável por sua evolução. Kardec também nos fala da indulgência recíproca que deveria mover os seres humanos, sabendo-se que indulgência para com as imperfeições do outro não significa inoperância diante do erro. Ou seja: no grupo espírita não é razoável, se algo está errado, calar-se para não melindrar o outro.
Nosso maior compromisso é com a Doutrina Espírita, e, depois, com a instituição. A forma da abordagem é que deve estar fundamentada na indulgência, não o erro. Precisamos substituir essas relações melindrosas, que em nada contribuem para a boa convivência, por atitudes cristãs. O Espiritismo é uma doutrina de vida para uso diário.
A oração é o recurso para o equilíbrio da alma. Para o bom funcionamento do Centro Espírita, tanto suas atividades como seus trabalhadores e estudantes têm que obedecer a certas disciplinas. Descumprir normas, omitir-se para não melindrar, é engano que só aumenta os problemas.
Mas a filosofia do conviver implica uma ética do cuidado. Assim como indiferença e permissividade projetam frutos negativos sobre a instituição, da mesma forma deve-se ter cuidado com a síndrome da intolerância. Em tudo na vida o bom senso é imperativo para um trabalho eficaz.
Trabalho
Solidariedade
Tolerância
(Jerri Roberto de Almeida,
“A Convivência na Casa Espírita”, adaptado.)